A quarentena alterou a rotina de basicamente todo o mundo por vários motivos. Um deles é o fato de que, devido às recomendações de segurança, tem se passado mais tempo em casa. Isso porque o isolamento social é uma forma de se evitar a disseminação do coronavírus, de fácil contágio.
Com os pais trabalhando em casa e os filhos sem aula na escola, essa convivência no mesmo espaço, com diferentes atividades, por um período prolongado pode se mostrar como um desafio. Por outro lado, as casas das famílias que estiverem experienciando esse convívio mais compartilhado também podem ver nisso uma grande oportunidade.
Não é segredo para ninguém que o mundo moderno estruturou nossa sociedade na direção do individualismo. Exatamente por isso, tem-se enxergado mais o desafio de se conviver por muitas horas com a própria família do que a oportunidade de se construir relações mais coletivas.
Para quem tem filhos menores, essa pode ser uma oportunidade particularmente interessante para a construção de algumas noções que poderão ter efeitos positivos na vida adulta. Crianças aprendem rápido e são superengajadas em atividades coletivas. É nisso que os pais devem focar nesse momento.
Vale lembrar que, como muitas famílias brasileiras têm empregada doméstica, a recomendação é afastá-las do ofício, mantendo o salário normalmente. Essa também é uma oportunidade dos filhos compreenderem, ao menos em parte, como funciona a casa.
Divisão de tarefas domésticas
Isso, é claro, depende da idade das crianças. Pré-adolescentes podem ajudar a limpar toda a casa, enquanto os menores podem ajudar a organizar a mesa antes das refeições, por exemplo. O importante é que isso entre para a rotina e tenha horários definidos, fazendo com que eles entendam que não estão de férias.
Também é importante que as tarefas tenham a mesma demanda para meninos e meninas. Dividir atividades a partir do gênero de seus filhos apenas contribuirá para a construção de um pensamento machista e nocivo.
Também vale envolvê-los em atividades coletivas, como organizar o guarda-roupas juntos. Isso pode, inclusive, trazer uma reflexão sobre o que é realmente necessário e se existem peças que podem ser encaminhadas para alguma organização ou instituição que possa recebê-las e doá-las.
Tarefas individuais devem ser mantidas
É claro que essa novidade não deve alterar a rotina regular de seus filhos, sobretudo, mais do que as mudanças provocadas pela pandemia em si. Muitas escolas estão mantendo suas atividades remotamente e isso deve ser prioridade. Idealmente, organize-se para que seu filho se envolva com as tarefas de estudo nos mesmos horários que ele estaria na escola.
Nesse sentido, conduza para que as crianças tenham o máximo de independência possível. Da mesma forma que as tarefas coletivas ajudam no amadurecimento, as individuais garantem um adulto independente e responsável.
Não se esqueça, é claro, dos momentos livres para brincar. Do mesmo modo, é essencial que isso seja feito em períodos pré-marcados com alguma flexibilidade. Entretanto, é importante que a criança tenha alguma rotina, mesmo para os momentos de brincadeira, sem deixar que as tarefas da casa e da escola combinadas a sobrecarreguem.
Lazer em família
Os momentos de lazer também podem ser feitos coletivamente. Pode até parecer que não, mas isso afeta positivamente a relação de seus filhos com o mundo. Uma dica simples é uma sessão de cinema em casa, por exemplo, uma vez na semana. A criançada pode estar envolvida em todo o processo.
Desde o fazimento da pipoca, a seleção do filme, até a preparação do ambiente ou a simples tarefa de apagar as luzes e dar o play, envolver as crianças nos processos de escolha e autonomia junto a você, mesmo em atitudes básicas, vai fazer com que o sentimento de pertencimento delas se desenvolva de forma saudável.
A dica final é: escute seus filhos. Muitas vezes os adultos tendem a ter uma relação unilateral de transferência de saber. Agindo como detentores da verdade na missão de transmitir uma certa verdade absoluta para as crianças, perdemos a oportunidade de aprender com elas.
Lembre-se que vocês são pessoas diferentes. Mesmo com pouca experiência de vida, as crianças já têm diversas vivências que os mais velhos não tiveram. A noção de coletividade e a troca de aprendizados deve ser horizontal, dos pais para os filhos e dos filhos para os pais.